Apesar do investimento anual milionário da Câmara dos Deputados para garantir um delicioso cafezinho para todos que transitam por seus corredores, um seleto grupo de parlamentares prefere usar verba pública para locar máquinas de café espresso.
Não parece admissível que parlamentares usem mais de um milhão de reais por legislatura apenas para terem a comodidade de café espreeso em seus gabinetes.
A história parece bizarra, e é. Leia abaixo e entenda.
O café
O café é uma das bebidas mais consumidas no mundo. No Brasil, mais que uma bebida, o café é sinônimo de socialização. Quem nunca chamou alguém do trabalho para tomar um café apenas para ter alguns minutos de boa conversa?
Na Câmara dos Deputados não é diferente. Em cada cantinho dos prédios que compõem a mais importante casa legislativa do país, sempre há uma garrafa cheia de um saboroso e quentinho cafezinho.
No entanto, há parlamentares que preferem gastar um pouco mais de dinheiro público para tomar outro tipo de café, o expresso. E isso custa quase um milhão de reais por legislatura.
Saiba como é isso lendo até o final.
Números de pessoas que impressionam
A Câmara dos Deputados possui quase 15 mil servidores, desde estagiários e terceirizados, até parlamentares. No entanto, cerca de 7 mil são comissionados que atuam em seus estados e que quase nunca colocam os pés nos gabinetes em Brasília. Logo, algo em torno de 8 mil trabalhadores transitam diariamente nos corredores da Casa.
Para além de todo esse pessoal, estima-se que aproximadamente 18 mil pessoas visitam o Congresso Nacional todos os meses, desde turistas até lobistas. Isso dá uma média de 600 pessoas por dia, se considerarmos finais de semana e feriados.
Considerando que todos esses passaram também pela Câmara, uma conta simples de matemática nos diz que aproximadamente 8.600 pessoas transitam pela Câmara diariamente, o que gera um tráfego de mais de 60 mil por semana.
Vamos guardar esses números na mente.
Cafezinho para quem quiser
De acordo com o Processo Licitatório Nº 306.364/2023, a Câmara vem recebendo 67,5 toneladas de café de categoria superior por um período de 12 meses. Com essa quantidade de pó é possível servir pouco mais de 113 mil xícaras de café de 50ml diariamente, entre segunda e sexta, durante um ano.
Novamente, usando uma conta simples de matemática, podemos concluir que é possível servir quase 3 xícaras de café a todos os servidores e visitantes da Câmara, durante os dias úteis da semana, pelo período de um ano.
Todo esse café custou quase R$ 1,4 milhão aos cofres públicos. Barato ou não, necessário ou não, fato é que em diversos pontos da Câmara dos Deputados garrafas de café estão sempre disponíveis para quem quiser.
Cafezinho expresso às custas do contribuinte
Apesar do café quentinho oferecido a todos os que estão ou que passam pela Câmara, uma prática pouco econômica se tornou uma constante em diversos gabinetes da casa, a locação de máquinas de café.
Apenas entre janeiro e julho deste ano, quase R$ 235 mil do dinheiro público da verba indenizatória foram utilizados por 70 gabinetes e lideranças partidárias para garantirem a comodidade de apreciarem a bebida sem precisarem sair do gabinete.
Na atual legislatura, que se iniciou em fevereiro de 2023, o valor ultrapassa os R$ 580 mil apenas para a empresa Amoretto Cafés Expresso Ltda, a principal fornecedora.
De acordo com regras da Câmara para o custeio do mandato parlamentar, a verba indenizatória pode ser utilizada para locar equipamentos, sem, contudo, especificar que equipamentos são estes.
Geralmente são locados computadores, impressoras, copiadoras, móveis de escritório e até roteadores. Para alguns, porém, a máquina de fazer café deve fazer parte dessa lista.
O mineiro Gilberto Abramo (Republicanos-MG) é o campeão de gastos com cafezinhos na atual legislatura com valor acumulado de R$ 19,5 mil.
Utilizando de sua verba indenizatória, seu gabinete gasta R$ 1.290 todos os meses para garantir a locação de uma máquina de café da marca Iper Automática 1, capaz de produzir 8 tipos diferentes de bebidas quentes.
O maior gasto mensal, porém, é conferido à deputada Detinha (PL-MA) que aluga a mesma máquina por R$ 1.490,00 por mês.
O partido com mais parlamentares apreciadores de café expresso é o Republicanos com 16, em seguida vem o PL com 11 e em terceiro o MDB com 10.
Entre os estados, os paulistanos são os maiores locadores da máquina com 10 parlamentares. O Pará, Ceará e Sergipe dividem a segunda colocação com 6 e empatados na terceira colocação estão os mineiros, tocantinenses e maranhenses, com 5.
Locar máquinas de café não é ilegal, mas em um país onde se contam moedas para que as políticas públicas básicas sejam praticadas, torrar dinheiro com esse tipo de comodidade fere não apenas a economicidade prevista nos princípios da administração pública, mas também a razoabilidade e a moralidade.
Segue a lista dos locadores de máquinas de café da atual legislatura
1º Gilberto Abramo (REPUBLICANOS-MG) R$ 19.150,00
2º Liderança do Governo na Câmara R$ 16.781,20 ()
3º Rafael Simoes (UNIÃO-MG) R$ 16.089,00
4º Luis Carlos Gomes (REPUBLICANOS-RJ) R$ 15.740,00
5º Castro Neto (PSD-PI) R$ 14.800,00
6º Ricardo Ayres (REPUBLICANOS-TO) R$ 13.880,00
7º Detinha (PL-MA) R$ 13.410,00
8º Daniel Agrobom (PL-GO) R$ 13.232,00
9º Gilvan Maximo (REPUBLICANOS-DF) R$ 12.800,00
10º Dilvanda Faro (PT-PA) R$ 12.624,00
11º Dayany Bittencourt (UNIÃO-CE) R$ 12.144,00
12º Zé Trovão (PL-SC) R$ 12.144,00
13º Maria Rosas (REPUBLICANOS-SP) R$ 11.914,50
14º Icaro de Valmir (PL-SE) R$ 11.904,00
15º Luiz Carlos Motta (PL-SP) R$ 11.830,00
16º Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) R$ 11.625,00
17º Vinicius Gurgel (PL-AP) R$ 11.520,00
18º Alexandre Guimarães (MDB-TO) R$ 11.471,00
19º Raimundo Santos (PSD-PA) R$ 11.180,00
20º Ely Santos (REPUBLICANOS-SP) R$ 11.101,34
21º Henderson Pinto (MDB-PA) R$ 10.580,00
22º Lázaro Botelho (PP-TO) R$ 10.120,00
23º Fred Linhares (REPUBLICANOS-DF) R$ 10.120,00
24º Luiz Gastão (PSD-CE) R$ 10.112,00
25º João Maia (PP-RN) R$ 9.962,40
26º Pr. Marco Feliciano (PL-SP) R$ 9.849,20
27º Ana Pimentel (PT-MG) R$ 9.800,00
28º Stefano Aguiar (PSD-MG) R$ 9.781,80
29º Dra. Alessandra Haber (MDB-PA) R$ 9.744,00
30º Murillo Gouvea (UNIÃO-RJ) R$ 9.660,00
31º Marangoni (UNIÃO-SP) R$ 9.463,67
32º Paulo Guedes (PT-MG) R$ 9.085,30
33º Keniston Braga (MDB-PA) R$ 8.822,40
34º Marcos Pereira (REPUBLICANOS-SP) R$ 8.814,60
35º Wellington Roberto (PL-PB) R$ 8.800,00
36º Ricardo Maia (MDB-BA) R$ 8.758,00
37º Juarez Costa (MDB-MT) R$ 8.748,56
38º Jefferson Campos (PL-SP) R$ 8.534,00
39º Marreca Filho (PRD-MA) R$ 8.067,20
40º João Carlos Bacelar (PL-BA) R$ 8.040,00
41º Aj Albuquerque (PP-CE) R$ 7.927,80
42º Aluisio Mendes (REPUBLICANOS-MA) R$ 7.906,71
43º Vitor Lippi (PSDB-SP) R$ 7.780,00
44º Luiz Couto (PT-PB) R$ 7.700,00
45º Andreia Siqueira (MDB-PA) R$ 7.700,00
46º Fabio Reis (PSD-SE) R$ 7.616,00
47º Júnior Mano (PL-CE) R$ 7.134,20
48º Jeferson Rodrigues (REPUBLICANOS-GO) R$ 6.557,00
49º Yandra Moura (UNIÃO-SE) R$ 6.030,50
50º Eduardo Bismarck (PDT-CE) R$ 5.640,00
51º Geraldo Mendes (UNIÃO-PR) R$ 5.288,00
52º Prof. Paulo Fernando (REPUBLICANOS-DF) R$ 5.075,35
53º Rodrigo Valadares (UNIÃO-SE) R$ 4.564,80
54º Julio Cesar Ribeiro (REPUBLICANOS-DF) R$ 4.401,48
55º Nitinho (PSD-SE) R$ 3.812,00
56º Vicentinho Júnior (PP-TO) R$ 3.520,00
57º Cezinha de Madureira (PSD-SP) R$ 3.500,00
58º Flavinha (MDB-MT) R$ 3.452,80
59º Wolmer Araújo (SD-MA) R$ 3.312,00
60º Zeca Dirceu (PT-PR) R$ 3.120,00
61º Clarissa Tércio (PP-PE) R$ 2.700,00
62º Mariana Carvalho (REPUBLICANOS-MA) R$ 2.584,60
63º Ossesio Silva (REPUBLICANOS-PE) R$ 2.340,00
64º Enfermeira Ana Paula (PDT-CE) R$ 2.160,00
65º Hildo do Candango (REPUBLICANOS-GO) R$ 2.100,00
66º Juliana Kolankiewicz (MDB-MT) R$ 1.726,40
67º Milton Vieira (REPUBLICANOS-SP) R$ 1.410,67
68º Júlio Oliveira (PP-TO) R$ 880,00
69º Acácio Favacho (MDB-AP) R$ 750,00
70º Fábio Henrique (UNIÃO-SE) R$ 352,00






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