O Instituto OPS reuniu os maiores gastos com divulgação parlamentar de deputados federais – referentes aos anos de 2023 e 2024 – revelando uma prática recorrente e intrigante, o descarrego, no apagar das luzes, do saldo da verba indenzatória em material obsotelo, ineficiente e ecologicamente incorreto.

Com o intuito de utilizar o saldo remanescente da verba indenizatória, esses deputados têm destinado recursos a contratações para a produção de material gráfico. Ironia que se agrava pelo fato de que, em plena era digital, esses materiais não geram o mesmo engajamento e retorno que as publicações em redes sociais, que permitem um diálogo direto com o eleitorado.

Veja como e quanto cada deputado federal, senador e deputados estaduais gastam com a verba indenizatória.

Ao analisar os dados, nota-se que todos os projetos de divulgação envolvem a confecção de material gráfico, um formato de comunicação que, há alguns anos, já vinha perdendo relevância diante das dinâmicas interativas e imediatas das mídias digitais.

Por meio da impressão de folders, cartazes e outros suportes físicos, o parlamentar não somente gasta recursos públicos de forma aparentemente emergencial como também reforça uma prática obsoleta. Enquanto o mundo digital evolui e passa a demandar agilidade e retorno mensurável – além de permitir o acompanhamento quase em tempo real das reações dos cidadãos – os investimentos em impressos parecem um resquício de uma era já ultrapassada.

Essa discussão sobre os gastos com divulgação parlamentar já havia sido abordada aqui, sempre enfatizando a inadequação da alocação de recursos para materiais gráficos em um cenário de transformação comunicacional. As análises daquele período apontavam para a necessidade de se modernizar a forma de prestação de contas e de comunicação com a população, adotando meios que permitam interatividade e feedback imediato.

Comparativamente, a prática atual evidencia que, apesar de décadas de alertas e críticas por parte da sociedade e da imprensa, os políticos continuam a repetir padrões que não só desperdiçam dinheiro público, mas também demonstram uma falha ética e uma desconexão com as demandas contemporâneas por transparência e eficiência.

Um bom exemplo disso vem de Roraima. O deputado Duda Ramos (MDB-RR) gastou no penúltimo dia do ano de 2024, mais de R$ 209 mil para a confecção de 73 mil jornais, quantidade maior que a tiragem diária do maior jornal do país, O Globo, com pouco mais de 60 mil exemplares/dia.

Preocupantemente, há indícios de que essa prática poderá se estender até o final de 2025, configurando um padrão ainda mais enraizado de como o excedente das verbas indenizatórias é utilizado. Tal situação exige uma postura de cobrança ética por parte dos eleitores e da sociedade, que não pode aceitar que a má gestão e a falta de inovação – na comunicação e na prestação de contas – sejam justificadas como simples adaptações às necessidades do momento.

A modernização dos meios de divulgação não é apenas uma questão de eficiência, mas de respeito ao contribuinte e de transparência na atuação pública.

É imperativo que os parlamentares repensem suas estratégias de divulgação, migrando para formatos digitais que favoreçam a interação e o verdadeiro retorno de suas ações.

A manutenção de práticas obsoletas, além de representar um descompasso com os tempos modernos, simboliza a persistência de uma cultura política que se recusa a evoluir, desdenhando a responsabilidade ética que lhes foi confiada pelo povo.

A sociedade, cada vez mais conectada e exigente, precisa cobrar e fiscalizar esse tipo de gasto para que o dinheiro público seja empregado de maneira mais justa, moderna e eficiente.

Este artigo busca não apenas denunciar os gastos inadequados, mas também instigar uma discussão ética sobre a necessidade de modernização na comunicação e na prestação de contas dos representantes políticos.

Veja abaixo o ranking dos deputados federais que foram ressarcidos em valores únicos (uma nota fiscal, apenas) nos meses finais de 2023 e 2024. As notas fiscais podem ser visualizadas ao clicar/tocar no valor da despesa.

EmissãoFornecedorParlamentarValor
30/12/2024CESAR V. M. SANTANA LTDA
07.590.103/0001-06
Duda Ramos
MDB / RR
184.428,00
29/12/2023AUSTREGESILO JUNIOR ARAGAO MELO
08.492.189/0001-99
Gustinho Ribeiro
REPUBLICANOS / SE
164.900,00
14/12/2023LEMES E ANTUNYS LTDA
18.475.438/0001-91
Alexandre Guimarães
MDB / TO
163.791,00
27/12/2024POLIGRAFICA INDUSTRIA E COMERCIO LTDA
02.234.227/0001-27
Professor Alcides
PL / GO
150.960,00
27/12/2024MARICLEYDSON COSTA DA SILVA LTDA
17.340.447/0001-02
Sargento Gonçalves
PL / RN
149.000,00
30/12/2024STAMPA DIGITAL & MIDIA EXTERIOR LTDA
19.840.709/0002-04
Guilherme Uchoa
PSB / PE
148.500,00
24/10/2023ELMARA ROCHA DOS SANTOS NUNES LTDA
26.085.341/0001-09
Dal Barreto
UNIÃO / BA
140.000,00
06/11/2023ADRIANO L. SILVA ENGENHARIA SERVICOS E COMERCIO
35.265.061/0001-65
Aluisio Mendes
REPUBLICANOS / MA
130.000,00
15/10/2024GRAFICA E EDITORA MORAES LTDA
34.540.161/0001-90
Silas Câmara
REPUBLICANOS / AM
130.000,00
26/12/2024GUSTAVO DA SILVA MOTA DOS SANTOS
52.531.642/0001-10
José Rocha
UNIÃO / BA
129.876,00
20/12/2024CORUJA INTELIGENCIA EM SERVICOS, COMERCIO E LOCACOES LTDA
10.629.801/0001-74
Arlindo Chinaglia
PT / SP
127.500,00

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